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marcello tarozzi

O CORVO DE COIMBRA




Muitos anos atrás um camponês chamado João, que vivia perto de Coimbra em Portugal, estava a arar o seu campo. Numa certa altura, ficando muito cansado, decidiu descansar um bocado à sombra de uma árvore. Uma vez sentado sob à grande árvore, apanhou o seu cantil e começou a beber. Aquele era um dia muito quente e o sol batia terrivelmente na sua cabeça.

De repente ouviu alguém chamar o seu nome: “Ó João, João, o que é que estás a fazer?”.

O camponês olhou em redor de si, mas não estava ali ninguém. Achou de se ter adormecido, mas, enquanto esteve prestes a voltar ao seu trabalho, ouviu aquela voz novamente: “Ó João, o que estás a fazer? Olha para aqui em cima”.

O camponês, no entanto, olhou para os ramos da grande árvore e ficou surpreendido em descubrir que tinha sido um corvo preto ali empoleirado a falar.

O João logo se perguntou como isso podia ser possível.

“Ó querido João, eu sou um corvo mágico. Chamo-me António. Consigo falar com os homens. Escolhi falar contigo porque és um bom camponês, com certeza o melhor de Coimbra”. Assim continuando a lisonjeá-lo o corvo voou até ao ombro do camponês.

Assim sendo, o João resolveu manter o corvo consigo. Só, de necessidade, devia trazer-lhe todos os dias uns dois ratinhos para comer.

Em troca, o corvo continuava a adulá-lo e a lisonjeá-lo: “Ai és tão lindo, tão inteligente. Não há pessoa tão forte como ti” repetia-lhe sempre o corvo. Por isso, o João nunca permitia que lhe faltasse nada. Até que enfim o corvo se tornou a sua mesma razão de vida, chegando a descuidar do trabalho nos campos.

Semanas passaram e, enfim, também os habitantes de Coimbra descubriram a existência do corvo falante que vivia com o camponês.

Um mercante muito conhecido chamado Manuel foi ter com ele para lhe pedir a venda da espantosa ave, mas o João recusou.

“Nunca te poderia deixar, meu querido” dizia o corvo na orelha do João.

Depois, voando ao ombro do mercante dizia: “Aquele tolo do camponês acha de ser à tua altura. Se me deres quatro ratinhos por dia para comer eu virei contigo”. Assim o mercante concordou e o corvo foi-se embora com ele, deixando o camponês sozinho.

Cada dia o mercante dava quatro ratinhos ao corvo falante e este nunca deixou de enchê-lo de elógios: “Tu és tão astuto, habilidoso. És o melhor negociante de Portugal” dizia-lhe. Assim o comerciante chegou a acreditar de ser realmente o melhor de todos e começou a descuidar dos seus negócios.

Até um dia em que o Marquês de Coimbra tomou conhecimento da existência do corvo mágico.

Quando foi pedir para receber ele mesmo o corvo, este, na orelha, disse-lhe que com certeza teria ido come ele se ele lhe tivesse oferecido oito ratinhos por dia. Aceitando o Marquês, o corvo abandonou o mercante à sua ruína.

Cada dia o corvo, ao receber os oito ratinhos, lisonjeava o Marquês: “Tu és tão poderoso, tão temido. Mereceria de ser rei de Portugal”. E, depois de alguns tempos, o Marquês começou a acreditar nas suas palavras. O rei de Portugal soube que o Marquês de Coimbra o queria destronar. Portanto mandou o seu exército cercar o castelo do Marquês.

Quando o Marquês foi derrotado, os seus soldados trouxeram-lhe que o Marquês de Coimbra possuia. Entre os presentes que lhe trouxeram havia um maravilhoso corvo preto que, diziam, conseguia falar.

“Se me der dezesseis ratinhos por dia, eu ficarei com você, meu senhor” disse o corvo.

“Que Rei tão fabuloso é Vossa Senhoria, que ótimo soberano. Mereceria de ser Rei de Espanha e Portugal” o corvo repetia sempre estas palavras na orelha do soberano, ao ponto que, enfim, este começou a acreditar nelas.

Logo depois o Rei de Portugal mandou o seu exército atacar a Espanha, mas foi derrotado.

Quando os soldados do Rei de Espanha entraram no palácio do rei, encontraram o corvo falante.

O mágico animal foi trazido perante do soberano de Espanha.

“Se me der cada dia trinta e dois ratinhos, eu alegrarei Vossa Senhoria e ficarei com você” disse o corvo preto.

“Mas que magnifico soberano que é. Mereceria de governar a Europa toda” repetia-lhe cada dia.

Assim o Rei de Espanha, esquecendo-se dos seus deveres e do parecer dos ministros, mandou o exército atacar as outras nações da Europa. O exército espanhol porém foi derrotado. Quando os soldados de França, Inglaterra e Áustria chegaram a Madrid, viram que no palácio do rei havia um corvo tão grande e gordo, que resolveram cozinhá-lo e comê-lo. O corvo tentou falar mas por causa da sua gordura enfim nem conseguia abrir a boca.

Assim o corvo foi cozido e comido.

O bajulador é a ruína de quem bajula e de si mesmo.


Marcello Tarozzi

traduzido por Anna Basso

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